marfim

•fevereiro 12, 2014 • Deixe um comentário

 

Durante a sanguinária invasão que destruiria seu reino, a pequena princesa fugiu pelas planícies etíopes do rio Omo. Sozinha em uma clareira, chamou atenção de uma jovem elefanta cujo filhote fora, há pouco, capturado por uma leoa. A elefanta cuidou de alimentar a menina com frutas de uma árvore próxima e as duas nunca mais se separaram. Ajudaram-se durante o inverno e as estações seguintes, até a princesa vingar todos os seus inimigos e recuperar sua terra e seu povo. Ao morrer, as presas da elefanta coroaram o pescoço da princesa, sendo sua insígnia e talismã.

 

dialética do três

•agosto 11, 2013 • 1 Comentário

 

Tunga, o senhor do castelo

Fui recebida em uma casa em níveis de portas muito altas, no coração de uma floresta imemorial, onde tudo eram elementos de um universo particular. Ali não havia tempo, mas havia papagaios e tartarugas invisíveis. Podia-se dizer que era um castelo e que seu senhor era o grande criador. Ao longo do dia, pessoas passavam e chegavam, para servi-lo, adorá-lo ou apenas observá-lo. E ele divertia-se em assumir personagens para cada uma delas, sempre com a generosidade de alimentar suas buscas.

 

Tunga, o aedo místico

Em cada canto do castelo havia uma história e diversas estórias esperando a serem criadas ou descobertas. O senhor as tecia por caminhos através            de caminhos nos quais aparentemente era possível perder-se e seguramente encontrar-se diversas vezes. Seus mitos fundadores tinham a métrica da carne e estendiam-se em materiais e visões.

  

Tunga, o artista

Mas era conhecido como artista, essa clausura. Para isso lhe pediam entrevistas, palavras e presenças. De Hermes virara Hermés sob holofotes cosmopolitas por vezes um pouco estrábicos. Essa era apenas mais um das histórias do senhor do castelo. Havia uma espécie de corrente etérea que, em duas ou três linhas, conectava cada obra sua com cada mito de seu universo em construção. 

 

15 de junho de 2013

•junho 16, 2013 • Deixe um comentário

 

Para não esquecer:

“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”

Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas

14 de maio de 2013

•maio 14, 2013 • Deixe um comentário

 

eis que de repente a vida se tornou uma série cronometrada de tarefas, nas quais esqueci de incluir descanso e lazer. 

 

10 de abril de 2013

•abril 10, 2013 • Deixe um comentário

10 de abril de 2013

final feliz

•fevereiro 21, 2013 • Deixe um comentário

 

acordou no meio da noite e com as pontas dos dedos passeou pelos caminhos incertos daquele corpo incerto, ali deitado nu ao seu lado. foi como se uma luz apagasse e subitamente entendesse que aqueles últimos cinco anos não haviam sido nada. sabia o que aconteceria então: algumas lágrimas, livros deixados para trás, noites sem dormir e depois tudo seguiria normalmente.

de tempos em tempos um dor lancinante cortava seu coração e simplesmente não conseguia andar. tudo eram cinzas: seu passado, seu presente e sobretudo o futuro. e aquela fúria assassina tomava seu corpo, que saía destruindo copos e vidas até destruir-se a si mesmo. definhou por anos até nunca mais morrer e ter que conviver com a ausência de não ter mais em quem descontar sua raiva.

 

8 de setembro de 2012

•setembro 8, 2012 • Deixe um comentário

 

Instável é o equilíbrio do cotidiano. Sempre bastou um sopro de timbre grave para que apenas as certezas desmoronassem. Mais dia menos dia isso dá problema grave…

 

filosofia

•setembro 7, 2012 • Deixe um comentário

 

Fazer filosofia importa em anotar mais de um apontamento, em considerar mais do que medições; não será menos complicado do que fazer um almoço nem mais simples do que construir bancos de madeira. Para filosofar talvez precise só de livros, papel, caneta e pessoas a meu redor que não utilizam aparelhos de som em altos brados.

                                                                                 Benedito Nunes

 

Entendeu?

 

algumas regras

•abril 23, 2012 • Deixe um comentário

 

havia regras naquela casa. jamais deixar louça suja sobre a pia. receber crianças às quartas e ser sempre recepcionado por gatos ao por do dia. fazer café com sanduíche pela manhã. dormir no quarto de hóspedes para quebrar a rotina. salgar tomates antes de juntá-los à salada. trocar corriqueiramente o lado da cama, para evitar pesadelos. nunca esquecer a salsa e a cebolinha.

 

23 de abril de 2012

•abril 23, 2012 • Deixe um comentário

 

imaginei viajar por todo lugar lendo para contar histórias, ouvindo para olhá-las e vendo para escrevê-las.

também ganhei uma caixa de caran d’ache. encaro como sinal para colorir a vida.